sexta-feira, 9 de maio de 2014

Aceito dinheiro, limões, mudinhas, livros, pães...



   Desde que optei por trabalhar cobrando aquilo que os pacientes podem pagar, enriqueci. Essa não é a primeira vez que escrevo sobre a escolha que fiz e que pretendo trilhar pelo resto de minha vida, mas tenho sentido a necessidade de dividir alguma de minhas experiências. Muitos pacientes, independente do quanto pagam em dinheiro, sentiram a abertura e vontade de pagar um pouco mais. Resolvi colocar aqui alguns dos valores que recebi.

Limões
   "Veja, trouxe aqui limões do limoeiro da casa de minha irmã, está dando um monte!"
Esses limões mataram a sede de muita gente, tranformados em saborosa limonada. Sem contar certa vez que espantaram a gripe de um paciente que foi atendido algumas horas depois do pagamento em limões. Desde então, deixo alguns deles em nossa salinha, para pacientes gripados, é certo que com um limão são presenteados.

Mudinhas
   "Você está fazendo uma hortinha ai atrás não está? Tenho que me desfazer de algumas mudas, não quer para você? Tem algumas que são medicinais e outras não, tem temperos, também!"
Não pensei para responder! Duas partes do pagamento já recebi, foram duas viagens com o carro lotado de mudas lindas, ainda falta uma viagem. Duas dessas mudas foram para um paciente querido que se mudará em breve, com certeza essas mudinhas terão o poder de alegrar-lhe a nova casa. Entre as plantas medicinais, tem uma que é ótima para pacientes em estado de câncer e, logo, logo, entrará em ação graças as mãos abençoadas do filho de uma linda paciente que hoje cuida de nossa hortinha com o mesmo amor e carinho que cuidei de sua mãezinha.

Livros
   "Gosta de Clarice? Tenho um livro bem teórico sobre o trabalho dela, não te interessa?"
Conheço pouco de Clarice, mas tenho certa amiga que coleciona suas obras e quando a questionei sobre o livro, tive uma surpresa: "Amiga, esse eu ainda não tenho! Que alegria! Quero sim!".

Pães
   "Veja esse pãozinho integral! Vi e tive de comprar para ti!"
E esse pão, levei para uma viagem. Nessa viagem um amado e iluminado amigo comeu-o com vontade  e gratidão. E foi este amigo que contribuiu monetariamente para que eu continuasse fazendo meu curso de Terapia Ayuvédica, com a mesma vontade e gratidão como comia o pão!

   Por essa luta, por esses pacientes, por essas atitudes, continuo firme neste caminho e falando com amor da imensa riqueza que essa escolha me proporciona. É com este amor e com a gratidão de presenciar todas essas bençãos que finalizo este texto com a frase de alguém que, embora não concorde 100% com suas atitudes, me ajudou a formar alguns pensamentos:

"Não nego a necessidade objetiva do estímulo material, mas sou contrário a utilizá-lo como alavanca impulsora fundamental. Porque então ela termina por impor sua própria força às relações entre os homens."
Ernesto Che Guevara

Sintam-se abraçados por este ideal onde dividir é multiplicar!
Muita luz, muita paz e muito amor,