Existem muitas pesquisas sobre o comportamento do autista: o que leva a agressividade ou ataques nervosos. Então eu te pergunto, o que te leva a ser agressivo ou ter um ataque de nervos?
Falarei um pouco sobre o que aprendi.
No primeiro dia de tratamento eu não podia massagear a mão do meu amigo sem que ele se afastasse em 2 ou 3 segundos. O que poderia ser considerado comum, já que se eu começar a massagear a mão de um total estranho, provavelmente ele se afaste. Resolvi estreitar laços, conversar mais sobre o que nos fazia feliz, dividir lanches, caminhar, ouvir música, fazer passeios e balançar um pouco no parque. Como em qualquer outra relação, criamos confiança um no outro, o suficiente para que nossa linguagem encontrasse uma ponte onde um sabia do limite do outro sem a necessidade de padrões, era afetividade pura e havia a compreensão total de um cuidar e ser cuidado. O tratamento progredia a cada encontro.
No último dia em que nos vimos ele pegava em minha mão com naturalidade e a posicionava nos lugares de tensão, eu então massageava o local até que ele com a própria mão mudasse o ponto massageado ou pedisse outra coisa qualquer. Uma relação regada de abraços, beijinhos e muito aprendizado foi estabelecida.
Quando eu não consigo me comunicar, quando já tentei de tudo e nada mudou, minha agressividade se debate para extravasar e meus nervos ficam a flor da pele.
Muitas vezes forçar ou questionar uma dificuldade só a faz aumenta-la, a comunicação verbal de acordo com os padrões da normalidade estabelecida pela nossa sociedade não é a única existente para os que nela habitam, alguns usam dela para se comunicar com facilidade, outros nem tanto.
Deixo um convite sincero a reflexão do que nos torna diferente uns dos outros e como reagimos com essa diferença, seja ela diagnosticada por um médico ou não.
Para os olhos sensíveis, um presente: de tantas formas que usei para construir essa relação, gravei alguns vídeos das perspectivas dele e das minhas, ele que adorava observar a paisagem quando o carro andava e eu que adorava acompanha-lo quando ele sentia vontade de correr e dar seus pulinhos sem pudor nenhum, neste vídeo conseguirão notar como nossas mãos eram fluentes na linguagem uma da outra.
Uma semana iluminadíssima, cheia de amor e compaixão!
Gratidão,
